15 janeiro 2010

Sobre um passado inexistente que existiu

"... Ouvia seus gritos, seu desprazer com a situação, via suas lágrimas escorrerem pelo rosto, via seu olhar vazio, sua infelicidade, sua vontade de sumir...

...ela que sempre foi a pessoa que mais me dava força, que acreditava e dizia que tudo que eu quisesse eu poderia alcançar com o devido esforço...

ouvia seu choro e as discussões não cessavam, ouvia os móveis sendo arrastados pela raiva do momento, ouvia utensílios quebrando no impacto com o chão, a parede,mas não fazia nada...
era jovem, não sabia explorar do poder de persuasão, não que fosse adiantar alguma coisa... nada adiantaria!

amigos iam lá pra casa ... e enquanto estávamos fechados no quarto jogando vídeo-game, os gritos e discussões aumentavam... me envergonhava... e fingia que nada estava acontecendo...

Ela chorava... nunca a vi chorar tanto... nunca havia sentido e nem nunca senti um ar tão pesado dentro de um ambiente... de mãos atadas só podia assistir, imóvel, sem reação ... ouvia mais um choro, porém de outra pessoa, uma ainda mais jovem que eu ... chorava em seu travesseiro ensopando a fronha e olhava pra mim esperando alguma palavra de consolo... meus olhos intactos... não podia chorar ou tudo desabaria, não podia reagir, simplesmente não podia fazer nada...

Estagnei, até que o momento chegou... fomos chamados a sala e sentados no chão de braços entrelaçados e mãos dadas, recebemos a notícia do que era inevitável...

e de novo o choro, ouvi o choro dela, ouvi o choro dele, ouvi o choro da pequena, mas não ouvi meu próprio choro... não chorei...
era um dia 26 de Março... 2 dias após meu aniversário... e não chorei...
apenas soltei o corpo e deitado no chão eu fiquei, meus olhos não enxergavam, e só o que sentia era a sensação de queda livre num abismo sem fim...

'ele vai embora dessa casa amanhã!'

a partir daquele momento amargurei... e no dia seguinte saímos de casa para que ele arrumasse suas coisas e partisse...

Saímos porque eles acharam que seria demais presenciar a cena da mala sendo feita...
como se tudo o que se passou antes não tivesse nos atingido diretamente...
...

e ele foi... a casa esvaziou... ela não conseguia dormir...
a pequena acompanhava ela para que conseguissem...

...Eu...

...bem... eu dormia no quarto... sozinho já que a pequena estava no quarto dela dividindo a mesma cama e ocupando o espaço daquele que partiu...

enfim a dor foi maior do que o peito podia suportar...
e não havia ninguém que eu devesse privar das minhas lágrimas...

e ali pela primeira vez nessa história eu Chorei..."


"...facing the day looking through these tears..."

11 janeiro 2010

O podre tem que se alimentar

"... Chegou a escuridão da noite, o sol se escondeu e a lua se pôs em seu lugar...
nos cantos úmidos o que posso ver são seres que trazem repugnância e que nos lembram quão sujo pode ser o mundo...
Os ratos saem para jantar, e se alimentam de tudo aquilo que é podre sujo e já não serve para mais nada...
de tudo aquilo que não passa exatamente daquilo que nós nos alimentamos...

Os ratos estão por toda parte...
defendendo sua falsa ideologia, expondo seus falsos prazeres, se "divertindo" as custas de quem Vive...

Enquanto esperava na estação de trem vi 5 jovens "punks" na minha direção, um gordo, um magrelo, duas meninas e um bobão...
Sentaram-se no banco do lado do meu enquanto todos esperávamos o mesmo trem... Falavam sobre baboseiras como intrigas entre eles e Punks nacionalistas, sobre o verdadeiro punk inglês, sobre Ska... e outras mil merdas que me faziam ter ânsia de vomito pela falta de conhecimento e excesso confiança ao falar...
me encararam por 5 minutos... e por 6 minutos encarei de volta...

desviaram o olhar talvez pela quantidade de desprezo que meus olhos expeliam em sua direção...

Chego em casa... e leio palavras bem escritas de alguém que realmente sabe escrever, mas de tão bagunçada que deve ser sua mente acaba transformando cada texto seu em um desafio literário...

e logo em seguida leio palavras que me lembram balas de festim...
São disparadas mas não causam um efeito real... não atingem... embora quem dispara tenha total certeza de que cada tiro acerta uma parte vital...
agindo como um rato!
por não aceitar o descarte... e prometer pra si mesmo de que vai haver arrependimento...

Deixe os ratos se alimentarem...

de tudo aquilo que eu me livrei..."



"
...o tempo limpa mente,
a chuva limpa o chão..."