Fazia tempo desde a última vez que havia sentido esse peso contra a coluna que dá na boca do estômago, me lembro com muita clareza das vezes que sentia isso.
Na grande parte das vezes acontecia um pouco antes de encontrá-la, mais ou menos naqueles momentos em que não se tem fome e nem se respira direito, quando você fica tentando arrumar a postura para parecer mais alto e aparentar ser alguém arrumado, e os joelhos não tremem, mas unicamente porque se fica muito concentrado se esforçando para que eles te mantenham de pé.
E quando chega, o abrir de braços acontece naturalmente como um florecer em velocidade aumentada, sem exigir nada de pensamento ou contração muscular. Infelizmente acontece o mesmo com o sorriso que se abre e se trava de um jeito que simplesmente é incontrolável, que acaba denunciando toda a grande explosão de felicidade que com tanto esforço eu vinha tentando manter escondidinho aqui dentro para não aparentar tanta ansiedade e desespero.
Eramos diferentes, enquanto todo mundo só falava das mesmas coisas e agiam da mesma forma, nós ficávamos isolados no nosso canto inventando diferentes jeitos de imaginar com que todos explodissem.
Ainda assim éramos carinhosos, tínhamos nossos 'apelidinhos' e formas infantis de falar um com o outro, sem deixar que o mundo nos visse nessa forma imbecil e de pouca dignidade a qual ficamos expostos enquanto estamos apaixonados. Como de costume eu sempre falava um pouco mais, enquanto você só olhava, ria, e fazia curtos comentários das bobagens que eu imaginava ou sonhava.
A sensação também doía as vezes, mas doía de um jeito bom. Como quando nos abraçávamos extremamente forte desejando secretamente que o tempo e o mundo congelasse ao nosso redor, e a força de um puxando o outro era como uma tentativa de entrar na pele fundindo os dois corpos em apenas um. A sensação era permanente. Enquanto dormia ela queimava no meu peito, e desde a hora de acordar até a hora de me deitar novamente ela doía como uma fome que não se mata comendo.
Mas o pior da sensação, e o que mais se assemelha a esse momento, era de quando os minutos no relógio pareciam pular de cinco em cinco, fechávamos os olhos e já sofriamos por antecipação da separação iminente. Dizer adeus doía demais, e a vontade de sumir juntos era tanta que as pontas dos dedos tinham força suficiente para erguer uma árvore. Infelizmente não fortes o suficiente para continuarem se segurando.
Heitor de Mendonça Batista